21 dezembro 2017

Partilha ecológica

 (Milão - Maio 2014)

Sinto um prazer inexplicável quando me cruzo com outro ser humano a utilizar os ecopontos de reciclagem ao mesmo tempo que eu. Gera-se ali um momento de partilha e convívio, calculo que semelhante ao vivido pelas pessoas que passeiam os seus cães e que param para trocar trivialidades enquanto os bichanos se cheiram. Naquele momento em que cedo a minha vez para outra pessoa deitar o  seu saco no ecoponto amarelo sinto-me um pouco menos só (menos louca?) nesta minha luta contra o desgaste do planeta.

Querido Pai Natal: este ano queria que as pessoas tirassem 5 segundos do seu tempo a separar os papéis de embrulho e as embalagens de brinquedos. Pode ser?

25 novembro 2017

Amar, apenas


Há momentos na vida que te pôem à prova. Momentos que te reviram, te esventram, te esmagam. Momentos em que duvidas de ti, dos outros, da própria existência... Momentos em que quase desistes, quase te deixas ir.

Mas não.

Segues em frente e levantas o queixo. Encaras o futuro de frente, com os olhos molhados e de buraco no peito. Segues, seguindo. Segues sem nada esperar. Segues vivendo, apenas.

E adiante, sem aviso prévio, tropeças. Abalroa-te uma nova sensação,  um fervilhar interior.  Sentes-te grande, enorme, gigante. Sentes-te completamente completo e sabes que agora sim, tudo está certo. Tudo está no seu lugar. Nesse momento o coração bate, apenas. E tu sabes apenas que amas. Amas muito. Apenas amas.

10 junho 2017

Meu mundo em cores #2

As feiras medievais, que se estendem durante todo o Verão, são sítios estupendos para recolher cores, cheiros e sabores. 




07 junho 2017

Demónios


Tenho uma doença. Nunca o admiti tão claramente como o estou a fazer agora. Tenho uma doença algures em mim, que me distorce a realidade e me impede de ser totalmente plena. Mais do que a minha casca imperfeita, contra a qual luto há quase 18 anos, e com a qual já devia ter aprendido a viver por esta altura, tenho em mim um demónio interno, que me puxa e me pisa e me magoa.

Ontem vi-o. Pela primeira vez, vi-o. Ali, sem mais, à minha frente reflectido no espelho, reflectido em mim.

Olho-me ao espelho e detesto-o. Ao demónio, a mim, à casca... queria que ele me deixasse em paz, que parasse de me matar aos bocadinhos. Pisco os olhos por um segundo e o mundo gira. Já não há demónio. Em vez disso vejo-me a mim, sem demónio, com outra casca.... esta casca não me parece tão má assim! Pisco de novo e o demónio regressa. Não suporto mais viver assim, com a visão distorcida, sem saber o que é real. Que casca é a minha? Preciso da verdade, preciso de me encontrar. Preciso que o espelho pare de torcer e distorcer de cada vez que me encaro.

Tenho uma doença. Nunca o admiti tão claramente como o estou a fazer agora. Tenho uma doença e não sei como lidar com ela. Não sei como lidar comigo.

Imagem: fresco do Solar dos Zagalos (Sobreda)

02 junho 2017

Saudades minhas

Tenho sentido saudades loucas de me transpôr em palavras. Toda eu sentimentos, toda eu emoções e sem conseguir deitar nada cá para fora. Acumulam-se as camadas de memórias e começo a transbordar. Se calhar é hora de me voltar a reportar por escrito, nem que seja só para arrumar a casa e assentar pensamentos.

Não devia haver um limite, uma escala, para sentirmos as coisa? Chegávamos ao 100 e pronto, parávamos com lamechices até haver novamente espaço vazio. Estou com problemas de logística. Tenho de me reordenar.

Mais tarde. Agora vou ser feliz na Feira do Livro.